Meknès, a Versailles marroquina
Fui para Meknès, após conhecer Rabat, a capital do Reino do Marrocos.
Foram 140 km apreciando a paisagem com as montanhas Atlas sempre ao fundo e as várias plantações de pistache nas proximidades de Rabat, assim como as plantações de azeitonas e uvas formando o cenário principal da região de Meknès. Além, é claro, dos muitos pastores com seus rebanhos de ovelhas.
Meknès é uma das quatro cidades imperiais do Marrocos, as outras são Fès, Marrakech e Rabat. A cidade possui cerca de 1 milhão de habitantes e, assim como as demais cidades do Marrocos, também possui uma cor característica, que no seu caso é verde.
A história da cidade está intimamente ligada a Moulay Ismail, o sultão alaouita, conhecido por sua crueldade. Porém, a origem de Meknès é mais antiga, datando do século X. Nessa época, a tribo Meknassa, atraída pelo solo fértil, água em boa quantidade e muitos jardins, se estabeleceu nas margens do rio Oued e fundou Meknassa Zeitouna e Meknassa Taza.
Conquistada pelos Almorávidas no século XI, a cidade foi principalmente um posto militar, antes de se expandir sob o domínio da dinastia Almóada, no século XII e mais tarde sob o reinado dos Merenidas.
No início do século XVII, Meknès se tornou uma próspera cidade, porém somente no final do século, com a chegada do sultão alaouita Moulay Ismail ao poder, que Meknès se tornou uma das maiores cidades imperiais do Marrocos.
Em 1672, Moulay Ismail fez de Meknès a capital do Marrocos. O mal afamado sultão usou de todos os seus recursos para dotar a capital de monumentos grandiosos. Sua intenção era que Meknès fosse conhecida como a Versailles Marroquina.
Para garantir sua ambição, ele recrutou um exército de operários, artesãos, escravos, prisioneiros e moradores das vilas próximas para a construção dos muitos quilômetros de muralhas e paredes, portões majestosos, celeiros, estábulos, arquedutos, mesquitas, jardins, palácios e kasbahs (fortaleza).
Mais do que isso, ele ainda ordenou a destruição de monumentos e palácios em Fès e Marrakech, para que nenhuma cidade do Marrocos fosse mais bonita que Meknès.
O declínio da cidade começou com a morte de Moulay Ismail. Porém, Meknès continua mantendo seu charme de cidade imperial. Hoje em dia, a cidade é o centro de uma região rica, caracterizada por uma agricultura crescente, onde azeitonas, cereais, citrinos, azeite e vinho fazem parte dos principais produtos comercializados e exportados.
Em 2006, a cidade ganhou o prêmio pelo melhor azeite extra virgem do ano, em Roma, sendo indicada no guia italiano Cuisine & Vini ganhando o certificado de qualidade mundial de azeites.
A principal produção de vinho no Marrocos também fica em Meknès, assim esta é a melhor cidade para tomar um vinho cabernet. Os vinhos não são tão bons quanto os europeus, devido principalmente à sua localização geográfica, que não está na faixa considerada ideal para o cultivo das vinhas.
A cidade também é um importante centro de produção artesanal. É o local ideal para comprar bordados, escultura em madeira, tecelagem, couro, cerâmica e o artesanato típico de Meknès, os objetos feitos com a arte da damasquinaria (damasquinados são semelhantes aos trabalhos encontrados em Toledo, só que elaborados com ferro e prata).
Em Meknès, já se pode sentir mais do estilo de vida do marroquino tradicional. Não é tão moderna quanto Casablanca ou Rabat.
Foi em Meknès que eu vi a primeira mulher de burca, andando na Place El Hedim, um lugar bem movimentado da cidade. Ela se misturava ao turbilhão de pessoas, carros, bicicletas e ônibus, juntamente com outras mulheres sem burca.
Outro costume que choca um pouco a nós ocidentais são os bares freqüentados apenas por homens. Em alguns poucos bares pode-se encontrar uma mulher sentada, e nesse caso, 100% delas são turistas.
Mesmo que para nós seja um hábito mais do que normal mulheres se sentarem acompanhadas ou não em um bar, se uma mulher for fazer isso no Marrocos, é melhor estar acompanhada por um homem. As mulheres ocidentais são vistas pelos locais como “fáceis”, e sentar em um bar desacompanhada pode atrair o assédio indesejado de alguns homens mais saidinhos.
A proximidade de Meknès com Fès (60 km), acabou prejudicando um pouco o turismo na cidade. Porém, a capital do sultão mais tirano da história do Marrocos oferece aos visitantes vários lugares não apenas bonitos, mas também históricos.
Não se pode negar que Meknès não tem as características marcantes das outras cidades imperiais como Rabat, a capital administrativa, Fès com sua divertida medina medieval e Marrakech com a inexplicável praça Djemma El Fna.
Mas mesmo assim, Meknès deve fazer parte de qualquer roteiro turístico, seja pelos seus belos portões, pelas ruínas que sobraram dos projetos megalomaníacos do Moulay Ismail ou pelo magnífico mausoléu desse terrível sultão.