África,  Marrocos

Kasbah des Oudaïas, a casa dos piratas em Rabat

Um dos lugares mais interessantes para conhecer em Rabat é o Kasbah des Oudaïas, uma fortaleza que data do período almorávida (séculos XI e XII). Os almorávidas eram originalmente monges soldados provenientes de grupos nômades do Saara.

Visitei o Kasbah des Oudaïas à noite, após, visitar o Mausoléu de Mohammed V e a Mesquita Hassan. De longe já se avista a impressionante muralha do Kasbah, com cerca de 10 metros de altura e 2,5 metros de espessura.

Bela muralha almorávida do Kasbah des Oudaïas

Pode-se entrar no Kasbah pelo imponente portão Bab Oudaïa. Esse portão, assim como muitos dos grandes monumentos do Marrocos, é de fundação almóada, a dinastia que sucedeu aos almorávidas no século XII. O portão foi construído por volta de 1195, por Yacoub el Mansour na parede já construída por seu avô Abd el Moumen.

Imponente portão almoáda Bab Oudaïa

Bab Oudaïa se localiza na Rua Jamaa. O portão foi construído em cantaria (pedra talhada) e magnificamente esculpido em ambos os lados. O portão em si não impressiona tanto por seu tamanho, já que essa é uma característica da arquitetura almoáda, mas sim pela força visual e simplicidade da sua decoração.

A forma do portão é baseada na característica básica da arte islâmica, ou seja, o arco em forma de ferradura, que, nesse caso é seguido por 2 outros arcos decorados com o padrão geométrico darj w ktarf, que significa literalmente um desenho de rosto e ombros, lembrando vagamente uma flor-de-lis.

Entrando no Kasbah

O Kasbah des Oudaïas é um lugar pitoresco, com casas e ruas em um padrão diferente daquelas encontradas nos outros bairros de Rabat. Estando no Kasbah já se nota a diferença. São várias ruelas cheias de casas brancas e azuis, o que acabou originando a cor característica de Rabat (no Marrocos, cada cidade possui uma cor característica).

 

Por dentro do Kasbah des Oudaïas, um labirinto de ruelas charmosas pintadas de branco e azul

Existe toda uma atmosfera romântica permeando as ruas do Kasbah. Suas ruas com casas antigas, belos portões, vasos e mosaicos, nos remete a outra época. É como se tivéssemos voltado no tempo, ou sido transportados para algum cenário de filme.

Porém o Kasbah não é formado apenas por sensações e impressões que se formam nas nossas mentes quanto lá estamos. Ali também aprendemos um pouco da história do Marrocos e seus costumes.

No início era originalmente chamado de Mehdiya, sendo este Kasbah, o que deu origem ao nome da cidade, já que Kasbah significa fortaleza, assim como Ribat, primeiro nome de Rabat.

Quando os mouros e os andaluzes expulsos da Espanha chegaram em Rabat, o local tornou-se conhecido como Kasbah Andaluz, uma república  autônoma de piratas (1621-1647). Em 1833, a tribo Oudaïa guiada pelo Sultão Moulay Abderrahman de Fez se estabeleceu no local e lhe deu o nome de Kasbah des Oudaïas, pelo qual é conhecido até hoje.

Caminhos que se abrem para serem explorados

O Kasbah des Oudaïas funcionou como o bairro dos piratas durante 200 anos, de 1627 a 1829. Os piratas eram patrocinados pelo imperador Moulay Ismail, uma das figuras marcantes da história do Marrocos, conhecido tanto por sua extravagância, bem como pela sua crueldade lendária.

Ismail patrocinava os piratas tanto para obter tesouros roubados quanto para que mulheres de todo o mundo conhecido na época fossem seqüestradas  para incrementar seu harém, que contabilizava 500 esposas.

Casa do líder dos piratas dentro do Kasbah des Oudaïas

Protegidos por Ismaill, os piratas então usaram a cidade e o seu porto. O labirinto de ruelas que formam o Kasbah serviu de moradia para bandidos, traficantes e marginais, a maior parte composta por espanhóis (85%) e holandeses.

A cor azul das casas foi escolhida pelos próprios piratas, pois era a mesma cor das casas que eles possuíam em Córdoba, na Espanha, além de ser também a cor do mar, a outra moradia deles. Assim, os aparentemente saudosos piratas podiam se lembrar de suas casas.

Um dos canhões que defendiam a fortaleza

O Kasbah oferece uma bela vista para o mar, e foi justamente na parte mais aberta do rio Bou Regreg, que faz divisa com a cidade de Salé, que os piratas fizeram um banco de areia para que navios inimigos ficassem encalhados nesse local, bem na mira dos canhões presentes no interior do Kasbah. Hoje em dia, o local é usado para balsas que atravessam para Salé.

Entrada típica de uma casa no interior do Kasbah

As belas casinhas de paredes envelhecidas e descascadas enganam ao primeiro olhar. São simples por fora, porém por dentro são grandes, formadas por um átrio central espaçoso, geralmente com uma fonte no meio e quartos e salas construídos ao seu redor.

Vista discreta do interior de uma casa do Kasbah

Essa disposição dos quartos e salas ao redor do átrio é típica da arquitetura árabe. É no átrio que a família se reúne e as mulheres se encontram para conversar. No segundo andar ficam os quartos mais íntimos e no terceiro andar o terraço.

No segundo andar se vê pequenas janelas com grades de ferro formando pequenos desenhos. Essas janelas serviam para as mulheres olharem para as ruas sem serem vistas pelos homens.

Detalhe de uma casa mostrando o segundo andar com a pequena janela por onde as mulheres olhavam para a rua

Dentro das paredes do Kasbah também se encontra o Musée National des Bijoux (Museu de Joalharia marroquino), abrigado em um palácio do século XVII, rodeado por um belo jardim andaluz. Ainda nas proximidades, tem-se a mais antiga mesquita na capital, a Mesquita Kasbah, construída em meados do século XI.

O Kasbah des Oudaïas é um lugar bonito, diferente e tranquilo para se visitar. Apesar de parecer um labirinto formado por ruelas de paredes brancas e azuis, o local possui pouco mais de 150 metros de uma extremidade à outra. Assim, para quem quiser se aventurar sem um guia e, por acaso, acabar se perdendo, basta perguntar como se chega ao portão Bab Oudaïa ou La Plataforme, outra saída do Kasbah, próxima à cooperativa de tapetes e ao restaurante La Caravelle.

Belas portas enfeitam as ruas do Kasbah des Oudaïas

O Kasbah des Oudaïas vale a pena visitar não apenas por suas histórias, mas também pela encantadora atmosfera e por todos os cenários atemporais com que somos brindados e que se abrem na nossa frente para belas fotos.

 

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