Mausoléu Mohammed V e outros lugares em Rabat
Já li em alguns lugares que não compensa conhecer Rabat, a capital do Marrocos, principalmente quando comparada com as outras cidades imperiais como Fès e Marrakech.
Eu discordo muito dessa afirmação. Existem lugares lindos para visitar em Rabat e vou descrever alguns aqui.
O primeiro lugar que visitei na capital foi o Palácio Real, já falado no post anterior sobre Rabat.
De lá fomos para o Mausoléu de Mohammed V, avô do atual rei Mohammed VI, e o responsável pelo nome de várias avenidas por todo o Marrocos.
Chellah
Logo na saída do palácio, avistamos o Chellah, um belo conjunto de ruínas merínidas levantadas por cima de ruínas romanas.
O lugar, como já dá para perceber, tem um significado histórico duplo. Foi lá que os romanos construíram a antiga cidade de Sala Colonia. Até hoje ainda não foram descobertas ruínas significativas da presença romana no local, porém as escavações já mostraram a existência da cidade e dão um idéia de sua importância na época.
Já a presença dos Merínidas, que vieram após os romanos, é bem mais evidente no Chellah. Os Merínidas foram uma dinastia bérbere (povo nativo do Marrocos) que reinou no país entre os séculos XIII e XV, logo após a queda dos Almóadas em Marrakech. Durante o reinado dessa dinastia, a capital foi transferida para Fès e posteriormente para Rabat.
A dinastia Merínida foi construída sobre uma combinação entre o islamismo tradicional e o folclore bérbere. Os governantes merínidas incentivaram muito o desenvolvimento das artes e arquitetura marroquina. Na época de seu domínio, o Chellah funcionava como um cemitério real.
Uma das partes que mais chama a atenção do Chellah é a bela porta de 800 anos, típica da arquitetura merenida, que combina simplicidade e solidez. Em seu estado original, a porta era revestida de mármore com cores vivas e decorada com azulejos. Dá para imaginar que ela deveria ser então bem mais imponente e bela do que se vê hoje.
O Chellah abre diariamente das 9:00 as 17:30, o ingresso custa 10 dihans.
Mausoléu Mohammed V
Após passar o Chellah, chegamos ao Mausoléu Mohammed V, construído em 1962 pelo Rei Hassan II, o mesmo responsável pela construção da Mesquita Hassan II de Casablanca. Ele mandou construir esse imponente mausoléu em honra ao seu pai, o sultão Mohammed V, chamado pelos marroquinos como o “libertador do Reino”.
O sultão é lembrado como responsável pela luta que resultou na independência do Marrocos. Hoje em dia, Hassan II e seu irmão, Moulay Abdellah, também estão enterrados, ao lado de seu pai.
O mausoléu é uma obra prima da arquitetura hispano-mourisco e da arte tradicional marroquina. Se do lado de fora ele já chama a atenção, do lado de dentro, seu encanto é ainda maior.
Foram necessários 400 homens para a construção do mausoléu, que levou cerca de 9 anos para ser completado.
A decoração rica em detalhes atinge o máximo da expressão e evolução da arte no Marrocos. Inscrições, desenhos, formas geométricas, cedro, ouro e mármore dão forma a um espaço belo e cuidadosamente planejado.
Rom Landau (1927-1974), autor britânico e estudioso da cultura árabe marroquina e também de outros países do Oriente Médio, escreveu que o Mausoléu de Mohammed V “une a majestade e a sobriedade da arte almoada, inteiramente dedicada à religião, a elegância e a pompa merenida e o sentido da grandeza das dinastias saadiana (séculos 16 e 17) e alaouita (séculos 17 e 18, os alaouitas são conhecidos por serem árabes descendentes de Maomé)”.
Bom, independente de conhecer ou não esses povos e dinastias, é impossível não se impressionar com a beleza do local.
O Mausoléu constitui um importante santuário para os marroquinos e um dos poucos locais onde se permite a entrada de não-muçulmanos.
Devido à sua importância, seja história ou seja religiosa, o local é protegido por vários guardas vestidos com vibrantes roupas vermelhas.
O Mausoléu de Mohammed V está localizado na Praça Al-Yacoub Mansour. A entrada é gratuita.
Mesquita Hassan
A Mesquita Hassan fica exatamente em frente ao Mausoléu do Mohammed V. Essa mesquita tem uma história bastante interessante e até certo ponto engraçada.
Inicialmente, a mesquita era o mais ambicioso de todos os edifícios almóadas. Ela foi encomendada pelo sultão Yacoub Al Mansour no final do século 12. Esse sultão pertencia à dinastia Almóada, uma potência religiosa bérbere que se tornou a quinta dinastia moura, tendo se destacado do século XII até meados do século XIII.
O desejo de Al Mansour era construir a maior mesquita do Marrocos, porém a mesma nunca foi concluída. Se tivesse sido finalizada, seria, na época, a segunda maior mesquita do mundo islâmico.
Al Mansour decidiu construir a mesquita para celebrar sua vitória sobre o rei espanhol. Sua idéia de grandiosidade para o edifício superava até mesmo o número de habitantes em Rabat suficientes para frequenta-la.
Na época, a principal mesquita do Marrocos, localizada em Fès, tinha capacidade para 20.000 fiéis, no entanto, seriam necessários 100.000 fiéis para preencher a mesquita Hassan. Esse número nem de longe condizia com a população de Rabat, que naquele tempo era apenas um vilarejo elevado à condição de capital por Al Mansour.
A torre teve sua construção iniciada em 1195, ao mesmo tempo em que a mesquita Koutoubia em Marrakech e a Giralda em Sevilha. Todas seguindo o estilo arquitetônico almóada.
Apesar de não aparentar, o minarete da mesquita Hassan é sem dúvida a mais complexa de todas as estruturas almóada, que caracterizam-se pela simplicidade e austeridade.
Cada fachada é diferente, com uma combinação distinta de padrões, com toda a complexidade das arcadas e curvas entrelaçadas sendo baseada em apenas dois modelos formais.
A parte cômica da construção da mesquita Hassan que os marroquinos gostam de contar fica por conta dos anseios religiosos e de grandiosidade de Al Mansour.
Segundo a tradição religiosa, quem constrói 7 mesquitas garante sua entrada direta no Paraíso com direito à compania de 14 virgens. A Mesquita Hassan, seria a sétima e maior mesquita a ser construída pelo sultão. Porém sua grandiosidade acabou atrapalhando seus planos, pois Al Mansour acabou falecendo antes de concluir seu projeto.
Com a sua morte, houve a mudança da dinastia almóada para a merínida e o seu sucessor simplesmente abandonou o projeto da construção da mesquita.
Al Mansour conseguiu construir durante sua vida seis mesquitas e meia e, por isso, o infeliz sultão não conseguiu garantir sua viagem de primeira classe para o Paraíso.
Independente de ter encontrado ou não as virgens no Paraíso, uma coisa é certa, Al Mansour passou a fazer parte das histórias bem humoradas que os marroquinos tanto gostam de contar.
A Mesquita Hassan abre diariamente entre 08:30 e 18:30, a entrada é gratuita.
2 Comentários
Karinna
Coitado… 6 mesquitas e meia?
Alá tenha piedade desta pobre alma, idealizadora de 6 mesquitas e meia e saldo negativo de -14 virgens! hehe! Beijão, Ka.
Valeria Di Mambro
Pois é Ka, esses sultões megalomaníacos nem sempre levam a melhor no final, rs. Volte sempre! Bjooo